O troca troca de objetos, sorrisos, beijos, carinhos, conhecimento, gentilezas e tantas outras sempre existiu.
Troca troca de entrevistas para mim é novidade.
Foi também num troca troca, com sentido de ampliar e não de trocar, entre Ricardo Fonseca, Mhario Lincoln e eu, que surgiu uma grande amizade. Aprendo, discordo, divulgo, sociabilizo, amplio conhecimento e eles me tiram da zona de conforto.
Veio de Mhário Lincoln a idéia de fazermos um com o outro uma entrevista. Confesso que temi pelas perguntas que iria receber e pelo nível das que teria de enviar.
Um grande desafio. Me vi ateada aos leões, aqui representados pelo entrevistado com 30 anos de experiência como jornalista.
Com a gentileza, a atenção e a orientação de Mhario estreio com esta entrevista. Uma situação que por certo ainda terei de enfrentar muitas vezes no curso de jornalismo.
(*) Raquel Ramos
RAQUEL RAMOS: Mhario Lincoln é compositor, poeta, músico instrumentista, escritor e jornalista. Qual deles prevalece em Mhario Lincoln?
MHARIO LINCOLN: O insight vem por todos os lados, em todas as horas. Difícil é não usá-los na hora certa. A escolha é automática. Quando é música, estou com o instrumento na mão. Quando é texto, estou diante do PC e assim sucessivamente. As poesias nascem durante minhas madrugadas. Aí escrevo num caderninho que guardo na minha mesinha de cabeceira. Minha esposa vez por outra leva um susto nessas horas.
RR: Qual a diferença entre ser jornalista e ser blogueiro?
Mhario Lincoln: Acho que sou jornalista. Minha formação, desde 1968, com 12 anos, foi dentro de uma redação. O ‘Jornal Pequeno’, de São Luís-Ma. Fui ajudante de repórter policial, nas ruas, aos 14 anos. Aos 17 já escrevia uma coluna de informação diária. Toda minha vida, até 1988, foi pautada no jornalismo, na TV e no rádio, tradicionais. Em 1988 só usava o PC para configurar minha página diária. Eu mesmo diagramava em PageMaker, novidade na época. Em 2006 quando os blogs se difundiam com maior intensidade decidi entrar no mundo virtual e construí o Portal Mhario Lincoln do Brasil. Nele, entrevista de TV, textos jornalísticos e informes de áudio, a rádio web MLB. Tudo no mesmo lugar. A ideia cresceu e se transformou no Portal Aqui Brasil, com sede no centro financeiro de Curitiba, a Av. Marechal Deodoro. Tínhamos funcionários, editores, estúdio de tevê e rádio. Funcionou muito bem até março de 2013 quando os ventos mudaram. Mas continuo hoje com um site pequeno só mesmo para divulgar meus trabalhados poéticos e minha música, além de publicar textos de meus amigos, como você Raquel, pessoa de extremo bom gosto. Assim, sou jornalista; aliás, o mais tradicional possível (risos). Admiro, no entretanto, blogueiros e blogueiras que antes de mais nada são os exemplos incontestes da Liberdade de Expressão. O Brasil precisa dos blogueiros. Não de alguns que usam seus espaços para negociar e barganhar. Mas, na maioria, os blogs são necessários. O blog é, naturalmente, o caminho de quem já milita na imprensa (papel) ou usa as redes para se comunicar. Os blogs são o futuro da informação, sem dúvida. Enquanto isso, vou-me esforçando para entrar de vez nesse segmento que é uma ferramenta opinativa, antes de tudo. Essa é a diferença fundamental entre um site e um blog, a meu ver. O blog é a voz, é a opinião do autor. No site, não só o autor, mas vários outros autores, outros elementos, interagem com a ferramenta. Por isso, há de se ter cuidado em demasia com blogs exatamente por difundirem a ideia básica de quem escreve. Isso ou choca ou explode em sucesso. Na internet não há meio-termo.
RR: Qual a diferença entre uma frase de fundo poético e uma frase de poética?
Mhario Lincoln: Sinto assim: Frase de fundo poético quando a construo, sempre disponho o foco em 'terceiros', tipo: "A pior ilusão é amar o amor dos outros com a sensação de ter que devolver depois..." #domeulivro… Geralmente dou um conselho nesse tipo de frase. Agora, quando a frase é poética, aí entra o meu sentimento próprio, tipo: "Acorda, antes que meu coração-ladrão lhe subtraia mais um beijo furtivo..." #domeulivro Vou levando nesse diapasão. Acho que vem dando certo.
RR: "Don't Confuse my tolerance with my hospitality" li esta frase num guardanapo de papel. Qual substituição que você faria com a palavra "hospitality".
Mhario Lincoln: Nesse caso entra um fator interpessoal. Depende demais da situação vivida. Essa frase (como em muitas no inglês tradicional) fora do contexto, foge um pouco da realidade, pois caracteriza um sentimento pessoal. Não meu, nem seu, nem de alguém. Mas de quem aplica a palavra naquele exato momento. Uma tradução simplista seria assim: "Não confunda minha tolerância com a minha hospitalidade". Dessa forma há duas palavras não conectadas e sem afinidade poética. Quando a frase explicita um momento de tolerância, a coisa já não anda bem. Tolerância aí, é bem forte e designa a fragilidade de um possível relacionamento à dois, sob aspectos completamente distintos entre quem diz e quem ouve. Vejo a hospitalidade, dentro da hermenêutica romântica, como 'não abusar de uma segunda chance que o autor da frase aconselha ao ouvinte'. No contexto apenas interpretativo poderia ser traduzido assim: 'Já te dei algumas chances. Perdi a tolerância. Não abuse novamente'. O que eu analiso fora do contexto, repito, é uma fala de dois personagens que perderam a vontade de viver à dois, sem paciência e talvez sem mais histórias...
RR: Você gostaria de ter "todo o tempo do mundo" para fazer o quê?
Mhario Lincoln: Pode parecer loucura o que vou narrar. Mas é a mais pura verdade. Eu gostaria de todo tempo do mundo para me reconstruir como pessoa. Ah, minha cara Raquel Ramos, você foi-me feliz nesta pergunta. Reconstrução profissional. Por exemplo, como fui ingênuo como jornalista de começo de carreira ao defender bandeiras e causas, sendo parcial. De nada adiantaram meus clamores, aliás, quando necessário, os interlocutores me deixaram sempre sozinho. Paguei caro, na época, por minhas denúncias, gritos sociais e revoltas políticas. Tempos depois fui obrigado a aprender que os bons jornalistas precisam ser 'inteligentemente leigos', quando mexem com determinados assuntos públicos. Se eu tivesse (todo esse tempo), aprenderia ainda mais sobre 'aceitação', ou seja, reconstruir-me com base no legado de 'aceitar as coisas que não posso modificar' e com sabedoria, identificar e modificar aqueles que posso. Mas ainda cometo certos erros, sinto certas angústias, certas frustrações as quais, no fim de meu outono, portanto, sem tanto tempo (mais) assim, ainda me perseguem como fantasmas guizóticos. Então, se eu tivesse todo tempo do mundo, trabalharia nisso. Nessa reconstrução, cujas linhas básicas acabei encontrando em um livro chamado "Tornar-se Pessoa", de Carl Rogers, publicada em 1961, mas que vim lê-lo somente em meados de 1995. Deveria tê-lo lido muito antes, pois dessa forma poderia ter trabalhado com mais tempo a chave do crescimento humano - segundo Rogers – ‘a aceitação, sempre acompanhada da empatia e da consideração positiva’. Essa e seus aderentes, são a chave para esse crescimento. Se todos nós nos aceitássemos como somos, nossas relações sócio-políticas, conjugal, empregatícia seriam bem melhores. Rogers, um psicoterapeuta com larga experiência clínica, acertou quando prescreveu a seguinte frase: "Quem é ou se dispõe a ser o que é verdadeiramente?". Pergunto: há milhares de pessoas que se performatizam diariamente, escondendo-se do espelho da realidade intrínseca. Tais atitudes jogam nas ruas milhares de zumbis sociais, às vezes, entregues às drogas e alucinógenos, outras ao suicídio ou marginalização social. Portanto, superar tudo isso diante de um enxame de violência, destruição cada vez mais significativa dos valores humanos, familiares, culturais, libertinagens abusivas, aparição de dogmas religiosas extremos etc., é motivo para se glorificar. Destarte, amiga querida, se eu tivesse novamente todo o tempo do mundo, me reconciliaria comigo mesmo, expulsando meus fantasmas guizóticos do meu lado. Mas acho que estou indo no caminho certo. Já me fiz consciente, já me aceito. E isso, segundo o Dr. Carl Rogers, 'é o caminho da maturação pessoal'.
RR: O que você escreveria na última folha em branco no mundo?
Mhario Lincoln: Acho que única e exclusivamente, ‘Saudade!’
RR: O mundo virtual hoje é uma realidade. Ele existe e existe de verdade. Você faz amizades, conhece pessoas, se apaixona, se comunica com elas, tem ciúmes e sofre quando acaba. Como um poeta sente, ou não, o amor virtual?
Mhario Lincoln: Tenho me sentido em casa com essas novas ferramentas do mundo virtual. Minha poesia ganhou força, seguidores. Ganhei amigos bons (outros nem tanto). As redes me ajudaram imensamente no sentido de mostrar meus trabalhos. Porém, nem tudo são flores quando está em jogo o chamado ‘relacionamento virtual’. Com o passar do tempo a internet amadureceu e obrigou a todos que a usam, a amadurecer também. Contudo o que se vê nas pesquisas que rolam quase todos os dias, é poucas pessoas souberam amadurecer com a internet. Ainda bem que existem muitas pessoas que primam por um relacionamento simpático e agradável e quando assim, acaba ultrapassando o virtual e tornando-se real, como foi nosso caso. Nos conhecemos e logo em seguida lá estávamos nós tomando um bom café na Fnac (Curitiba) e conversando sobre tudo. Claro que nesse meio há amores, dantes ‘platônicos’, doentios, enganosos, como nos mostra a face real do relacionamento humano, desde que Caim matou Abel. Em recente estudo de uma universidade canadense, 76% dos que usam uma ferramenta social na internet tendem a se envolverem com seus interlocutores. O detalhe é que desses 76%, mais da metade têm idades que variam entre 12 e 21 anos e entre 55 e75 anos. À primeira vista, parecem presas fáceis para bandidos virtuais. Portanto, cabe a nós mesmos, policiar e dirigir nossas participações nas redes sociais, principalmente. No fundo, há de se ter extremo cuidado ao falar, opinar, publicar fotos, divulgar fatos pessoais, localização (tipo estou agora no Shopping tal) e sentimentos via ferramenta social. Isso porque existem pessoas que se especializaram nesse tipo de informação para aplicarem golpes sérios e desumanos. Especialmente quando se trata de relacionamento com o chamado ‘amor virtual’. No entretanto, acho-me bastante familiarizado com meus seguidores, amigos e fãs virtuais de meus trabalhos. Posso até mesmo dizer: Amo-os a todos! No melhor dos sentidos.
RR: O livro que você está lançando O Guia do Extraordinário Poético no Twitter atende os anseios ou desejos do amor virtual?
Mhario Lincoln: O meu livro é na verdade um pouco do que penso e sinto nessa minha caminhada poética. Usei as redes para mostrar esse trabalho já que está por demais difícil se publicar uma obra neste país. Por isso, é através das Redes que me faço conhecer poeticamente. Recebi, inclusive, convite da poeta Otília Martel, de Portugal, para escrever uma das apresentações de seu livro, lançado no ano passado. (Pode ser lido através do link: http://domeulivro.com.br/9-materias/127-otilia-martel-me-presenteia-com-posfacil). Isso é resultado dessa amostragem nas redes. Com certeza o meu novo livro tem atendido não só aos anseios deste poeta como tem-me gerado imensa satisfação em conhecer pessoas como você. O detalhe é que eu tenho recebido vários e-mails de pessoas que têm lido minhas frases e delas tirado proveito em seus amores reais. Fico muito feliz quando consigo construir uma mensagem de fundo poético e essa atingir pessoas lá fora, no mundo real, com resultados positivos. Nada paga essa satisfação de ver pessoas se realinhando através de minhas construções poéticas. Isto é, do virtual para o real, sem escala (risos). Maravilhoso isso. Inclusive vou confessar aqui pra você Raquel algo maravilhoso. Dentre vários e-mails sobre seu recente trabalho em vídeo que postamos (pode ser visto através do link: https://youtu.be/cqn94ApAb1o), recebi um muito especial. Leia:
“Caro Mhario e Raquel, emocionada com seu vídeo até agora. Convidei (....) para assistir comigo e logo em seguida reatamos uma relação que estava se deteriorando por causa de meus ciúmes. No final do vídeo há uma mensagem que as namoradas devem se insinuar mais, beijar mais, se entregar mais. Estava cega de ciúmes e não vi que o erro estava em mim. Obrigado pelas palavras (....)’, 24 de março de 2015-Uberlândia-MG
Como você vê, cara Raquel, não tem preço.
RR: Meu desafio para você é completar com uma única palavra as frases que seguem, as mesmas que respondi para o blog Luz de Luma, Yes Party:
Mhario Lincoln:
Se eu fosse um mês: Março
Se eu fosse um dia: Quarta-feira
Se eu fosse uma hora: Meia-Noite
Se eu fosse um planeta: Saturno
Se eu fosse uma direção: Nordeste
Se eu fosse um móvel: Cadeira de embalo
Se eu fosse um líquido: Chás
Se eu fosse um pecado: Gula
Se eu fosse uma pedra: Rubi
Se eu fosse uma árvore: Carnaúba
Se eu fosse uma fruta: Caju
Se eu fosse uma flor: Orquídea
Se eu fosse um clima: Primavera
Se eu fosse um instrumento musical: Piano
Se eu fosse um elemento: Prata
Se eu fosse uma cor: Azul
Se eu fosse um animal: Urso
Se eu fosse um som: Do vento
Se eu fosse uma música: ‘Smile’, de Charles Chaplin
Se eu fosse um sentimento: Saudade
Se eu fosse uma comida: Cuscuz
Se eu fosse um lugar: Lençóis Maranhenses
Se eu fosse um doce: Goiabada cascão
Se eu fosse um cheiro: Patichouli
Se eu fosse uma palavra: Perdão
Se eu fosse um verbo: Amar
Se eu fosse um objeto: Caneta
Se eu fosse uma parte do corpo: Olhos
Se eu fosse uma expressão facial: Sorriso
Se eu fosse um personagem de desenho animado: Homem Aranha
Se eu fosse um filme: "A Vida é Bela"
Se eu fosse uma forma: Octogonal
Se eu fosse um número: 1954
Se eu fosse uma frase: "Amo, porque amar é minha essência"
Obs: Quero agradecer imensamente essa oportunidade que me foi dada por você Raquel Ramos, de poder contar de forma resumida um pouco do meu trabalho nas redes sociais. Grande abraço.
Aqui está a entrevista que concedi à Mhario Lincoln
Descrição detalhada das fotos para acesso do deficiente visual (para saber mais clique aqui) -1 Foto do jornalista Mhario Lincoln, sentado numa cadeira, usando camiseta de listras azul.